F O Baú Errante: A Transição

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

A Transição

[memórias e realidade]

Novembro de 2010
Despedida

Então percebo que, depois de 10 anos, a minha vida vai mudar de uma hora pra outra, e que o lugar e as pessoas a que já estava acostumada, vão quase desaparecer da minha vida. Os rostos conhecidos, os corredores, as árvores, as salas. E os meus últimos passos ali com essa identidade parecem ser mais pesados. Tento não pensar nisso, evito concretizar os sentimentos que permeiam minha mente, que perturbam meus pensamentos, mas é inevitável.

Meus olhos tentam gravar cada último segundo do ambiente que foi a minha vida por 10 anos. Cada canto uma lembrança, uma memória que é recuperada.

Janeiro de 2011
Desgaste

Eu só queria minha vida de volta. A minha vida quando eu podia passar o dia inteiro fazendo coisas inúteis sem se preocupar. A minha vida quando o tempo não parecia estar sendo desperdiçado. A minha vida quando eu tinha vontade de fazer tudo e sabia que se me esforçasse conseguiria. A vida quando eu achava que podia estar em vários lugares ao mesmo tempo. Quando a minha mente estava sempre disposta a qualquer esforço. Quando eu me interessava por mil e uma coisas. Quando queria informações para aumentar meu conhecimento. Quando ler algo sério e com conteúdo informativo não fazia minha cabeça pesar. Quando meu corpo não queria só descansar. Minha mente só apagar. Quando tantas preocupações não me afligiam. Quando eu tinha algumas certezas. Quando o tempo disponível me era suficiente. Quando, quando, quando... Quando eu gostava de viver e continuar vivendo a cada dia.

Março de 2011
Mudanças

Vida nova. Cidade nova. Tudo novo. Pessoas, lugares, aulas, atividades. É difícil começar uma vida totalmente diferente assim, de repente. E a partir daí ter duas vidas: a nova e a velha. Passar a semana conhecendo lugares e pessoas diferentes, voltar pra casa no final de semana e ver tudo como sempre foi durante os últimos anos, a última década, e querer continuar lá para sempre. Mas não, em dois dias é preciso retomar a nova vida e tentar se acostumar com o fato de que logo, essa não será mais nova, mas será a normal e atual. É difícil largar para trás pessoas queridas, saber que só vai vê-las semanalmente, mensalmente... Largar o conforto da casa grande, pra viver em um apê apertado; o carinho e cuidado da mãe, pra ter que se virar sozinha. E no esforço de tentar voltar à vida de antes por dois dias que seja a cada semana, percebemos que aquela vida já se foi. Ela não existe, só podemos ter alguns resquícios dela, mas jamais a teremos de volta completamente.

Mas é assim que a vida é. Cheia de mudanças, novas etapas, novas experiências. E temos de aceitar e aproveitar cada um desses momentos únicos. Porque por mais difícil que seja, no fim percebemos que vale a pena. E por menos que pareça, aquelas pessoas realmente importantes vão continuar lá, esperando e ansiando para nos rever, sempre que possível.

Um comentário:

  1. O Efeito do Tempo e a Mutabilidade das CoisasDeveríamos ter sempre diante dos olhos o efeito do tempo e a mutabilidade das coisas, por conseguinte, em tudo o que acontece no momento presente, imaginar de imediato o contrário, portanto, evocar vivamente a infelicidade na felicidade, a inimizade na amizade, o clima ruim no bom, o ódio no amor, a traição e o arrependimento na confiança e na franqueza e vice-versa. Isso seria uma fonte inesgotável de verdadeira prudência para o mundo, na medida em que permaneceríamos sempre precavidos e não seríamos enganados tão facilmente. Na maioria das vezes, teríamos apenas antecipado a acção do tempo. Talvez para nenhum tipo de conhecimento a experiência seja tão imprescindível quanto na avaliação justa da inconstância e mudança das coisas. Ora, como cada estado, pelo tempo da sua duração, existe necessariamente e, portanto, com pleno direito, cada ano, cada mês, cada dia parecem querer conservar o direito de existir por toda a eternidade. Mas nada conserva esse direito, e só a mudança é permanente.
    Prudente é quem não é enganado pela estabilidade aparente das coisas e, ainda, antevê a direcção que a mudança tomará. Por outro lado, o que via de regra faz os homens tomarem o estado provisório das coisas ou a direcção do seu curso como permamente é o facto de terem os efeitos diante dos olhos, sem todavia entender as suas causas. Mas são estas que trazem o germe das mudanças futuras, enquanto os efeitos, únicos existentes para os olhos, nada contêm de parecido. Os homens apegam-se aos efeitos e pressupõem que as causas desconhecidas, que foram capazes de produzi-los, também estão na condição de mantê-los. Nesse caso, quando erram, têm a vantagem de fazê-lo sempre em uníssono. Sendo assim, a calamidade que, em decorrência desse erro, acaba por atingi-los, é sempre universal, enquanto a cabeça pensante, caso erre, ainda permanece sozinha. Diga-se de passagem que temos aqui uma confirmação do meu princípio de que o erro nasce sempre de uma conclusão da consequência para o fundamento.

    Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

    as mudanças fazem parte da vida, nao há força no mundo que pare o tempo,
    cabe a voce interpreta-las

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