F O Baú Errante: Velho conto

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Velho conto

Em meio a cadernos e folhas de anos escolares anteriores, encontrei um conto que escrevi na 8ª série. A proposta era continuar a história a partir do primeiro parágrafo do conto "Em Flagrante" de Artur da Távola. Não ficou grande coisa, mas achei interessante e resolvi colocá-lo aqui depois de alguns ajustes.
Decadência

"Quarta-feira, hora melancólica das cinco e meia, quando chove. Choveu úmido e frio na tarde antes sufocante de novembro. Ela caminhava na direção do metrô, os sapatos molhados. Pelo menos o metrô lhe parecia um progresso no meio dos tempos decadentes. Dava-lhe a sensação de estar em outro país. A decadência em torno a assustava."

Entrou no metrô e olhou em volta. Tudo parecia monótono. O tempo fechado, nebuloso, tudo tão deprimente. Mas gostava daquele tempo; sentia-se bem, identificava-se com ele.

Sentou-se em um banco mais próximo à porta, na janela. Observou lá fora. Tudo como sempre... Podia definir com uma palavra: decadência. O tempo chuvoso só acentuava mais esses traços marcantes.

O metrô estava vazio. Apenas ela, uma senhora e uma menina.

Entrou alguém. Um rapaz, provavelmente pouco mais velho que ela. Ele olhou-a pelo canto do olho e sentou-se três bancos à frente.

Ela, a princípio, pareceu não lhe dar muita atenção, mas na verdade, sua mente só pensava nele. Não era tão bonito assim, mas seus olhos eram penetrantes e difíceis de serem ignorados. Sentiu uma súbita vontade de falar-lhe algo, mas achou a ideia ridícula e riu de si mesma. Que idiotice pensar nisso.

Os dois trocavam olhares furtivos, mas nenhum se mostrava disposto a dizer uma palavra. Ela tentava evitar, mas era impossível não ceder àqueles caprichos. No fundo, sentia um certo encantamento a respeito daquilo tudo.

Subitamente ele se levantou. Andou em sua direção, olhando-a, enquanto ela procurava evitar seu olhar. Estava chegando tão perto, agora quase parando. Mas não parou. Seguiu em frente e saiu do metrô. Lançou mais um olhar para trás, seu rosto inexpressivo. E foi-se.

Ela tentou desviar seus pensamentos do homem e olhou pela janela. Sentia o desconforto de seus pés ainda encharcados. Que decadência. Levantou-se e saiu.



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