F O Baú Errante: A mídia e a questão na USP

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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A mídia e a questão na USP

Eu já sabia que a mídia distorcia os acontecimentos, favorecia um ponto de vista. Mas, ultimamente, tenho descoberto que é muito mais que isso. A imprensa, de fato, manipula os dados e pode fornecer uma visão totalmente errada da realidade. E quando não faz isso, no mínimo, expõe as informações de forma a favorecer uma ou outra interpretação.

Isso se tornou claro com todos os acontecimentos envolvendo a Polícia Militar e os estudantes da USP São Paulo. Os alunos, insatisfeitos com o convênio com a Polícia Militar (feito pelo reitor de forma autoritária e imposta) para atuar no Campus e suas constantes abordagens e revistas, se indignaram quando três estudantes que fumavam maconha foram abordados e tratados como criminosos. Revoltados, tentaram impedir a PM de levar os alunos e em seguida ocuparam e FFLECH. Pronto: para a mídia, e todos os que nela acreditam, maconheiros playboyzinhos protestam contra a PM no campus para poderem fumar em paz.

Depois de realizada uma assembleia geral na USP que, aparentemente, foi contra a ocupação da reitoria, um grupo de alunos resolveu ocupá-la mesmo assim. E mostrando o caráter repressivo da atuação da PM no campus, depois de uma semana e a recusa dos manifestantes de desocuparem a reitoria, foi mandada a tropa de choque, com 400 policiais, 2 helicópteros e cavalaria para retirar menos de 100 estudantes (e alguns funcionários) desarmados. Apesar da PM afirmar que a reintegração de posse foi pacífica e tranquila, alunos declararam terem sido colocados em salas escuras, separados das meninas, na qual foram agredidos por policiais sem identificação. Também uma menina foi levada sozinha para uma sala, da qual ouviu-se seus gritos por 30 minutos. Há quem diga que a ação da PM lembrou os tenebrosos tempos da ditadura.

A imprensa diz que haviam móveis quebrados e todo o tipo de depredação na reitoria, mas uma aluna afirma que viu os policiais quebrando tudo, antes que deixassem a imprensa entrar. 73 ocupantes foram presos e libertados alguns dias depois, após a fiança ter sido paga. Os dados são muitos e muitos, e se confundem entre si. No meio desse caos, temos a mídia e policiais dizendo uma coisa, e toda a população a favor deles; e os estudantes que presenciaram, e também os demais, dizendo outras coisas. Assim, fica difícil saber o que é verdade e sabemos que sempre haverá exagero de todas partes. Mas a mídia é capaz de exagerar descaradamente.

Depois de decidida greve em várias faculdades da USP em protesto à prisão dos estudantes, à violência e presença da PM e contra o reitor Rodas, foi realizada uma Assembleia Geral no CAASO (USP São Calos) (precedida de um debate a respeito da segurança e da PM no campus no dia anterior). Foi um ato de democracia, um lugar de discussão, debate e decisão, com uma grande representatividade, mais 1000 alunos (cerca de 20%), coisa raramente vista no CAASO. A Assembleia teve como pontos principais a questão da presença da PM no campus, e se apoiaríamos os atos de São Paulo, tendo sido incluído vários pontos, como o "Fora Rodas". Legalização da maconha? Isso ninguém sequer citou. Dois ou três comentaram sobre a droga, alguns diziam que eram contra o uso no campus, mas foi enfatizado que o foco não era assim. Mesmo assim, no dia seguinte, uma reportagem a respeito do evento fez questão de colocar a maconha como algo que foi apontado na discussão, além de enfatizar o consumo de bebida alcoólica durante a Assembleia. Estando eu presente durante todo o acontecimento, sei o que realmente foi pautado e discutido e percebo como, de fato, a mídia atua: da forma que acha melhor.

Assembleia CAASO: Fora Rodas!

Por fim, foi deliberado em São Carlos indicativo de greve e a paralisação dos estudantes da USP durante a quinta-feira (17) e a sexta-feira(18) (sim, pensado para que não fosse dito que estávamos emendando feriado), com atividades programadas, como debates e discussões a respeito da gestão e da segurança no campus, atos públicos com passeatas, conversa entre cursos e assembleia para novas decisões. O objetivo da paralisação é, além de ser uma forma de protesto, aprofundar o debate dos assuntos em questão e permitir que sejam tomadas novas decisões a respeito de próximas ações. Agora esperaremos a próxima posição da mídia.

Apesar das críticas, a mídia vêm, nos últimos dias, tentando mostrar uma posição mais neutra. Começa a colocar quais são as reivindicações dos estudantes, excluindo a legalização da maconha delas, começa a ver com olhos mais críticos o vandalismo "cometido" pelos estudantes. Mesmo assim, ainda há a predominância de um dos lados.

Por fim, acho importante colocar explicitamente algumas reivindicações dos estudantes, grevistas, paralisados, ou simpatizantes:
  • Fim do convênio com a PM no campus;
  • Outras medidas de segurança como: melhorar guarda universitária, aumentar iluminação e aumentar circulação de pessoas no campus (abertura do metrô);
  • Renúncia do reitor Rodas;
  • Fim dos processos administrativos contra estudantes e funcionários por razões políticas;
  • Eleições diretas para reitor e representação paritária na universidade;

É muito difícil, dentro de tudo que o conflito na USP envolve, escolher apenas algumas coisas para abordar, mas tentei resumir alguns tópicos de forma clara, apontando algumas coisas que fossem relevantes. Um tópico que ficou deficiente foi a questão do Rodas, que pode ser melhor enfocado na próxima vez.

Para quaisquer comentários, críticas, sugestões, correções, o espaço está aberto.

2 comentários:

  1. muitas pessoas tomaram a iniciativa de falar na assembleia e expor suas opiniões, inclusive a autora do blog.

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  2. Essa foto eh fodastica! vai marcar historia

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