F O Baú Errante: O dia de nossa vitória

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domingo, 13 de abril de 2014

O dia de nossa vitória


Hoje, nós, mulheres do Brasil, conseguimos nossa tão desejada liberdade. Foi promulgada e publicada no Diário Oficial, a Lei nº134.56/2020, lei que proíbe o uso de praias de forma mista. A partir de hoje, todas as cidades do litoral terão o prazo de 2 anos para fazer cumprir a lei, implementando todo o tipo de regulamento, alteração e obras de infraestrutura necessárias para separar e garantir áreas de praia para uso feminino e masculino. Áreas de uso misto só serão permitidas em uso limitado para turistas em época de alta estação em municípios previamente escolhidos.

Foram anos de luta, e diversas tentativas, para finalmente chegarmos à solução para garantir a segurança, integridade e liberdade das mulheres brasileiras. Agora poderemos ir à praia, trajando nossas roupas de banho, de forma livre, sem o medo de sermos agredidas e violadas sexualmente. Os estupros em praias chegaram a dados alarmantes anos atrás, e finalmente o atual Governo ouviu a nossa voz e estabeleceu medidas para conter o avanço dessas práticas.

É claro que sempre entendemos que ir à praia era um risco. Expor tanto o corpo fisicamente em um ambiente público com homens que são seres controlados por seus hormônios e instintos primitivos, e que qualquer distúrbio mental poderia culminar em atos violentos de sexo forçado, era realmente algo perigoso. Mas nunca imaginamos que a coisa evoluiria a tal ponto de ser quase aceitável forçar mulheres a sexo publicamente, já que estavam ali, exibindo seus corpos, seminuas, o que só nos leva a crer que foram à praia com esse motivo. 

As prostitutas se aproveitaram da situação: começaram a fazer ponto nas praias, já que o local se tornou um potencial para homens que buscavam sexo fácil. É claro que elas perceberam depois de um tempo, que não adiantava muito. Se eles podiam obtê-lo de graça, por que iriam pagar por isso?
Acontece que a maioria das mulheres, obviamente, não estavam ali por sexo. Elas só queriam relaxar, pegar um bronzeado, às vezes, só levar os filhos para brincar ou dar um mergulho para se refrescar. Mas, com o aumento dos assaltos sexuais às mulheres, muitas preferiram deixar de ir às praias para não correr o risco. O que claro, também não resolveu a situação, e só se tornou pior para as que resistiam e continuavam exercendo seu direito de ir à praia.

Então o presidente, no final de seu mandato, arranjou uma solução: proibiu os biquínis e maiôs. Criou uma regulamentação em que, somente 40% do corpo feminino poderia estar à vista em ambientes públicos como praias e piscinas públicas. É claro que não aceitamos isso bem. Protestamos e lutamos, mas o governo só dizia que era para a nossa própria proteção. Sem a tentação, não teria como haver assédios e estupros. E por menos que gostássemos, até acreditamos que isso mudaria alguma coisa. Mas não mudou. Mesmo com todas as dificuldades impostas pela nova regulamentação, a situação não mudou, e os ataques continuaram.

Lutamos e conseguimos cada vez mais apoio. Chegaram as eleições, e finalmente conseguimos um governo mais favorável à causa das mulheres, inclusive com uma mulher como presidente. E depois de muitas conversas entre o governo e o movimento, nós chegamos ao acordo que criou a lei de proibição às praias mistas. Os homens protestaram, mas mesmo assim, nós ganhamos.

E agora, finalmente, tudo vai mudar.

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Essa é uma obra de FICÇÃO, e que não necessariamente expressa a opinião da autora.

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