O tema do Blog Action Day deste ano é comida. E quando pensamos em comida, além de nos lembrarmos de iguarias deliciosas, especialmente doces (hehe), logo nos vem a mente a questão mundial a respeito da fome. Além disso, eu costumo pensar principalmente sobre o desperdício em todas as suas formas, e como se dá esse extremo oposto a um de nossos maiores problemas globais.
Primeiramente, pensemos no trivial: o desperdício em nossas casas, nos restaurantes, supermercados. Cotidianamente jogamos fora restos de alimentos, aquilo que fizemos a mais e não quisemos comer no dia seguinte, ou aquela comida que estragou antes do que esperávamos. Todos os dias, 39 mil toneladas de comida em condições de consumo* são jogados ao lixo devido a uma certa... falta de planejamento ou manejo nossa. No Brasil parece que existe essa cultura da “fartura”. Na mesa é preciso que haja comida de sobra sempre, mesmo sabendo que tudo aquilo não será consumido. Em restaurantes a escala é maior, especialmente nos self-services, pois não há como estes preverem exatamente quanto é necessário de cada prato diferente. E em supermercados há o problema de frutas e legumes estragados, produtos vencidos ou danificados. Mas isso é apenas o que vemos. Da colheita de alimentos até os supermercados, muito se perde, podendo chegar a 70% em alguns países (no Brasil é 20%, mas há controvérsias de que seja mais)*.
Poderíamos também considerar um desperdício o atual uso das terras agricultáveis no país e no mundo. A maior parte delas, quando em uso, são destinadas ao cultivo de monoculturas como milho, soja, cana, entre outros. Esse tipo de prática implica em diversos problemas ambientais, como o uso de agrotóxicos em excesso que polui as nossas águas, o empobrecimento do solo devido a essa utilização, pois não costuma haver rotatividade de culturas, além dos problemas sociais que os latifúndios empregados na monocultura geram, pois impedem o acesso de muitos pequenos agricultores à terra. Apesar disso, são os pequenos agricultores que fornecem 70%* do alimento para consumo interno no Brasil. E então? Poderíamos produzir muito mais alimento, se substituíssemos parte da monocultura de cereais e cana, não?
E para que serve o cereal? Para alimentar o gado. São precisos 7 quilos de grãos para produzir 1 quilo de carne bovina(sem contar a agua). E esse mesmo quilo de grãos poderia alimentar muito mais pessoas do que o quilo de carne. Lembrando de alguns conceitos da ecologia, temos que sempre há perdas energéticas entre os níveis tróficos. Ou seja, um boi come um tanto de alimento que possui uma quantidade de energia, mas a energia que sera aproveitada pelo boi é apenas uma parte, assim como o animal que ser alimentar do boi, (nós) receberá menos energia ainda (pois só parte dela foi para a carne que comemos). Mas ai você pensa (se não for vegetariano): nós precisamos de carne para uma alimentação balanceada. Só que boa parte das pessoas consome excesso de proteínas, ou seja: carne demais; o que pode estimular o aumento da incidência de diversas doenças e problemas renais. Ou seja, poderíamos alimentar mais pessoas e sermos mais saudáveis ao mesmo tempo.
Todas essas frentes do desperdício mostram o descaso que há com a comida tanto por parte de nós mesmos, quanto por parte dos que manejam, comercializam e produzem a comida. Além disso, o governo também toma parte dessa história, pois concede inúmeros benefícios aos monocultores do agronegócio, e não incentiva e ajuda os pequenos agricultores como deveria. No Brasil temos dezenas de milhões que passam fome, apesar de podermos produzir alimentos para toda a população e muito mais. Pois como sabemos, o problema da fome no país e no mundo todo, não é de produção, mas sim, de distribuição.
*Dados de:
Desperdício de Alimentos, Maria Bene, <http://users.matrix.com.br/mariabene/desperdiciodealimentos.htm>, acessado em 16/10/11
Pequenos Agricultores do Brasil, <http://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/pequenos-agricultores-brasil.htm>, acessado em 16/10/11
Superinteressante, edição “desconhecida”
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